Artista em Processo – uma entrevista com Filipe Catto


Foto: Rita Vicente

Filipe Catto, o gaúcho de 21 anos de idade, arrastou cerca de mil pessoas à sala Villa-Lobos na noite de ontem, 1º de fevereiro, durante o FestiArte. O cantor afirmava ser primeira vez que saía de sua zona de conforto, o eixo Rio-São Paulo-Porto Alegre. Muito emocionado e agradecido, Filipe trouxe um grande cenário ao Festival e cantou por quase duas horas.


Com repertório abrangente e sofisticado, o músico conta com público de idade diversa, como pode ser visto no show. Entre canções próprias e interpretações de Maysa, Nelson Cavaquinho, Eduardo Gaudin e Paulo Vanzollini, Filipe mostrou-se preocupado com a composição do espetáculo como encenação, além da escolha de repertório e da unidade dramática.

Ele conversou com o blog do FestiArte antes do show, sobre os caminhos que o levaram ao sucesso atual. Filipe fala sobre seu começo, as influências, comparações com o cantor Ney Matogrosso e sobre o futuro. Confira a entrevista.
  
FestiArte: As pessoas conheceram seu trabalho através da internet, em vídeos postados no YouTube. Hoje, aos 21 anos, você é apontado como uma revelação da Música Brasileira dos últimos tempos. Você esperava alcançar esse reconhecimento e chegar onde está?

Filipe Catto: Não. Não que eu não esperasse chegar. Na verdade, é uma pergunta dúbia. Tudo aconteceu rápido, mas quando eu paro para pensar que eu estou tocando há mais de 10 anos, eu acho que este é o momento certo. Mas eu não esperava, por exemplo, tocar pela primeira vez em Brasília, em um lugar como o Teatro Nacional, para essa quantidade de pessoas. E com a possibilidade de trazer o show do modo como eu concebi, com cenário, músicos e todo o cuidado que eu tive para fazê-lo. É muito mais fácil tocar em São Paulo, onde nós temos uma equipe instalada.

FestiArte: E quem são os músicos que te influenciaram na construção de sua carreira?

Filipe Catto: Eu tenho influência de diversos artistas. Como comecei muito cedo, eu sempre tive uma coisa muito gaúcha, no sentido de buscar o indivíduo, de achar o meu lugar. Algo que é ancestral a mim, e até mesmo cultural, fruto da minha formação.
Foto: Rita Vicente
Eu gosto de muitas coisas, mas o que mais me interessa nas minhas influências, mais do que qualquer rótulo ou estilo, é a postura das pessoas. Por exemplo, eu gosto muito da PJ Harvey. Sou completamente apaixonado por ela. E ela tem uma participação muito grande no meu trabalho, mas não exatamente no som, não é que eu queira fazer um som como o da PJ Harvey. Ela me trouxe sabedoria musical, requinte de letras, modos de interpretação, postura de palco. Isso me interessa, assim como me interessa a Elis, o Milton, musicalmente; o Caetano, o Antony do Antony and The Johnsons, o Jeff Buckley e diversas outras pessoas. Mas não existe uma linha de estilo de pessoas que sejam minhas influências.

FestiArte: E como você trata a comparação rotineira de sua semelhança musical com o Ney Matogrosso?

Filipe Catto: Eu acho que é uma questão de tempo. O Ney tem muita personalidade e eu como artista não quero nada que seja do Ney, exatamente por que eu admiro muito essa personalidade dele. Eu estou em busca da minha história.
Eu não posso dizer que escutava Ney quando eu tomava banho, na época que eu comecei a cantar e tinha 11 anos de idade, e a minha voz era aguda. Eu não sabia que iria ficar adulto com uma voz assim. Então, ele não era um parâmetro para mim. Quando eu comecei a cantar, as minhas influências eram Elis, Janis Joplin, Jim Morrison, Cássia Eller...
Mas essa comparação é normal, até por que eu acho que o Ney é o parâmetro mais palpável que existe para me comparar, pela voz extremamente aguda.

FestiArte: Sua carreira está começando, mas demonstra ser o princípio de algo muito maior. Qual é a sua expectativa para o futuro? O que você espera que aconteça?

Filipe Catto: Não sei. Isso já está acontecendo e eu não quero criar uma ansiedade e me colocar em um lugar no qual que não necessariamente deveria estar. O meu negócio é fazer show, é trabalhar o dia-a-dia, com profissionalismo. Quero conseguir estar cada vez mais inserido no meu próprio dia-a-dia. O que eu mais quero para a minha vida é viver do meu ofício, poder tocar para as pessoas e levar a minha música para elas. Um dia de cada vez, um espaço de cada vez. 

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