Ney Matogrosso: 70 anos de reinvenção


Quem vai a um show de Ney Matogrosso esperando um memorial das décadas de 1960/70, pode se frustrar. Do alto de seus 70 anos, com 40 só de carreira, o músico mato-grossense é o melhor exemplo de quem pode ser chamado integrado. Novos tempos chegam e Ney não só os acompanha como se reinventa cada dia mais. Recentemente, em entrevista à apresentadora Marília Gabriela, o cantor posicionou-se em relação à luta contra a homofobia. Sobre a hanseníase, doença que ainda afeta parte considerável da população brasileira, Ney já vem falando há alguns anos, e chegou a liderar uma campanha de erradicação.

Foto: Limoncino Oliveira
O ativismo do músico deve ser visto, segundo ele, como “o cumprimento de um papel de cidadão”. Ney não se envolve em política. Quando perguntado sobre temas que envolvem as agendas parlamentares, ele pede para não comentar. Mais interessa ao cantor a composição de um bom repertório. Nisso, a inventividade de Ney Matogrosso não tem limites. Entre a generosidade e os bons trabalhos de experimentação estética, o cantor inseriu no currículo a gravação um disco inteiro com a, à época, iniciante banda Pedro Luís e a Parede, em 2003. Para o próximo disco a ser gravado, Ney já seleciona jovens compositores de todo o Brasil, em um trabalho pop de muita experimentação, tal como o disco “Inclassificáveis”, de 2008.

Em Brasília, o músico apresentou seu último show gravado em DVD no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Beijo Bandido. Um repertório com grandes clássicos do cancioneiro popular brasileiro recebem arranjos sóbrios e inventivos nas mãos do diretor musical Leandro Braga. Dentre as canções de destaque, “Tango pra Tereza”, “Da Cor do Pecado”, “A Distância”, “Doce de Coco”, “Bicho de 7 Cabeças II” e “Mulher sem Razão”. A banda, composta pelo piano de Leandro, a percussão e Felipe Roseno e as cordas de Lui Coimbra e Alexandre Casado, adquire caráter orquestral ao longo do show.

E nem só os arranjos são sóbrios. Ney sobe ao palco vestindo um terno bege, assinado por Ocimar Versolato e mostrando o rosto, com menos maquiagem. A interpretação das canções, no entanto, remete à extravagância do personagem. Ney se coloca ainda mais sensual em Beijo Bandido. Troca olhares com a plateia como em uma conquista e, por vezes, dança em ritmo lento com os quadris e deita-se sobre uma cadeira alta que compõe o cenário.

Foto: Limoncino Oliveira
A construção de um desinibido Ney Matogrosso ao longo dos anos foi, também, a possibilidade de continuar nos palcos. Ney começou a cantar em Brasília. Aqui ele se apresentou em bares e boates, mas não usava nenhum recurso estilístico ou estético como defesa, e isso o mantinha muito inseguro. Ao contrário do que se pensa, o cantor é muito tímido. Segundo ele, “quanto ao Secos & Molhados, o personagem  era uma defesa. Aquilo não só me ocultava como me manteve incógnito durante muito tempo.”

Se hoje ele se apresenta com a cara limpa, é porque dentre os constantes rumos artísticos que Ney já tomou ou pode vir a tomar, outros desafios e propostas estilísticas sempre surgem. Os repertórios passam por ele de maneira singular. “Eu não tenho tristeza de me despedir de nada; já houve momentos em que eu fiz três ao mesmo tempo”, comenta sobre a relação com os shows criados.


Sobre o tempo de carreira, Ney considera-se livre para fazer o que bem entende depois de 40 anos, para se reinventar mesmo achando que alguns padrões de comportamento regrediram. Ele comenta, ainda, que depois desse tempo de carreira, parece que tudo passou muito rápido e que tem tudo na memória como se fosse recente. Mas quando perguntado sobre o sentimento de saudosismo, o cantor responde com veemência: “não sou nem um pouco. O problema é que o Brasil está mais careta”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fiquei chocado ao ver a quantidade de pessoas que precisaram chegar as 6 horas da manha para retirar o ingresso para o show. O teatro nacional estava lotado ao meio dia e os ingressos nao haviam sido distribuidos. Na minha ingenuidade, eu achava que indo na hora do almoco eu conseguiria um ingresso. Viagem perdida. So quem chegou de madrugada e passou a manha toda em pe na fila conseguiu retirar seu ingresso, q foi entregue depois das duas da tarde. Um show desse comportava o dobro de pessoas facilmente. Pensem nisso na proxima vez.